Plantas em Espaços de Saúde e Bem-Estar: A Natureza como Aliada na Promoção da Saúde

Plantas em Espaços de Saúde e Bem-Estar: A Natureza como Aliada na Promoção da Saúde

Explora o poder da natureza nos espaços dedicados ao cuidado da saúde e bem-estar e descobre o que pode fazer pelos teus pacientes e colaboradores.

 

📍 Índice de Conteúdos

  • A Conexão entre Saúde e Natureza
  • Benefícios das Plantas em Espaços de Saúde
  • A humanização do Ambiente de Saúde
  • Porque Considerar Plantas em Espaços de Saúde e Bem-Estar
  • Integração de Plantas em Diferentes Espaços de Saúde e Bem-Estar
  • Diretrizes e Estratégias para a Conceção de Áreas Verdes Terapêuticas
  • Como Superar Barreiras e Preocupações Comuns
  • O Futuro dos Espaços de Saúde

 

Numa sociedade onde a saúde é frequentemente associada à inovação tecnológica e aos avanços científicos, a simplicidade e o poder da natureza são, muitas vezes, negligenciados.

No entanto, estar na presença de plantas pode ser transformador e contribuir para aprimorar a nossa saúde e bem-estar.

Resultante desta constatação, cresceu a valorização da humanização dos espaços dedicados ao cuidado da saúde e do contributo da natureza neste processo.

A presença de elementos naturais contribui, por um lado, para o embelezar de um espaço, normalmente frio e descaracterizado, e por outro, oferece benefícios tangíveis e intangíveis que impactam profundamente o bem-estar de pacientes, funcionários e visitantes.

Este artigo explora o poder do verde no redefinir da experiência em cuidados de saúde.

 

Plantas no exterior de um ambiente hospitalar

 

A Conexão entre Saúde e Natureza: Benefícios das Plantas em Espaços de Saúde

Para além da assistência eficiente à saúde, os espaços a esta dedicados, deveriam promover igualmente um ambiente saudável e confortável. Sim, deveriam, porque esta não é, atualmente, uma prioridade.

O público destes espaços passa, normalmente, longos períodos sob condições de stress no seu interior e, portanto, priorizar também o seu amparo psicológico é uma mais valia como suporte à recuperação.

A preocupação com a humanização dos ambientes hospitalares tomou dois caminhos. Por um lado, surgiram os “therapeutic garden” ou “healing garden” – jardins projetados para dar suporte ao atendimento em unidades de saúde – normalmente, no seu exterior.

Por outro, propôs-se a aplicação do conceito de Design Biofílico no interior destas unidades, embora com algumas limitações devido aos elevados padrões e normas de higiene exigidas a estes espaços.

Ambas as aplicações dizem respeito à incorporação da natureza no decorrer da atividade dos espaços de saúde e bem-estar. Vamos saber mais sobre estas aplicações, mas comecemos por perceber os seus benefícios.

 

🏥 Benefícios das Plantas em Ambientes de Saúde

Nos dias que correm, são já várias as pesquisas que confirmam os benefícios das plantas em ambientes internos.

Em particular, a Teoria da Redução do Stress Psicológico, proposta por Roger Ulrich em 1984, parte do princípio de que ter contacto visual com a natureza evoca respostas emocionais positivas, auxiliando na recuperação da saúde através da contribuição para o restabelecimento do equilíbrio do sistema psicofisiológico, alterado pelo stress.

Esta teoria foi elaborada com base na comparação da recuperação pós-cirúrgica de pacientes em leitos com vista para construções, com a de pacientes com vista para cenários naturais.

Os resultados constataram que estes últimos permaneceram em média 7,96 dias internados, enquanto os primeiros, 8,7 dias. Verificaram ainda que os que visualizavam natureza sofreram menos complicações pós-cirúrgicas, necessitaram de menos analgésicos moderados e fortes e possuíram melhores avaliações sobre os seus estados psicológicos.

Por entre os efeitos que contribuem para estes resultados podem estar:

  • redução dos níveis de cortisol, pressão arterial e frequência cardíaca;
  • melhoria do humor;
  • efeito calmante;
  • promoção do bem-estar geral.

A Teoria dos Jardins de Apoio, proposta pelo mesmo autor, em 1999, reafirma os benefícios para a saúde, da redução do stress através do contacto com a natureza.

Sendo o stress um problema recorrente em hospitais e clínicas, a implementação destes jardins é justificável e indicada.  

 

Casal de pais a passear num jardim terapeutico

 

Transformar Espaços Clínicos: A Humanização do Ambiente de Cuidados de Saúde

Para a implementação eficaz dos jardins terapêuticos ou do conceito biofílico, a Teoria do Restauro da Atenção vem ajudar a identificar os elementos necessários.

Para tal, importa primeiro identificar dois tipos de atenção humana que justificam a abordagem: a atenção direta e a indireta.

A atenção direta envolve a concentração em tarefas específicas – exigida durante períodos de trabalho e estudo, p.e. - e requer o bloqueio de outros estímulos a fim de evitar a distração. Segundo os seus autores, Stephen e Rachel Kaplan, períodos prolongados de atenção direta sem restauração podem ocasionar fadiga mental, irritabilidade e impaciência, e diminuir a capacidade de julgamento e concentração.

A atenção indireta não exige esforço e restaura a fadiga mental, sendo cenários como a natureza, os mais eficazes para tal.

Segundo esta teoria, os autores afirmam que ambientes restaurativos ou terapêuticos devem propiciar quatro sensações conjuntamente:

  • Escape: implica afastar-se da fonte do stress, seja mentalmente, imaginando outro local, fisicamente, mudando de ambiente, ou visualmente, olhando através de uma janela, por exemplo.
  • Ambiência: o local para o qual se vai ou se desvia a atenção deve proporcionar a sensação de estar num lugar novo.
  • Fascinação: o local deve possuir elementos atrativos suficientes para ocasionar fascínio, causar interesse e incentivar a exploração. Os autores enfatizam que os elementos da natureza tendem a causar tal sensação nas pessoas, pela ampla variedade de fauna, flora, água, contrastes de luzes, detalhes e processos.
  • Compatibilidade: está relacionado com a possibilidade de adequação dos desejos dos usuários ao local. P.e., se o desejo é ficar sozinho, encontrar um lugar para se sentar afastado de lugares movimentados.

 

A conceção de espaços verdes com fins terapêuticos não precisa ser, necessariamente, distinta de uma área ajardinada normal. É o direcionamento das atividades desenvolvidas no local que o tornam terapêutico.

Para tal, é necessário utilizar a criatividade para encontrar soluções que atendam às necessidades específicas de cada local.

Estes espaços devem ser sempre pensados, especificamente, para o propósito da cura e suporte a atividades envolvidas nesse processo.

Deve, portanto, possuir elementos que favoreçam a socialização ou introspeção, despertem o desejo de espairecer, de se exercitar ou de estar apenas num ambiente aberto.

Estes detalhes possibilitam, aos pacientes, exercerem o seu poder de escolha num ambiente em que vivenciam falta de privacidade e limitação da liberdade, como frequentemente acontece em hospitais.

Recomenda-se que os espaços verdes sejam distribuídos entre 30% de elementos construídos e 70% destinado a vegetação (Marcus, Barnes, 1999).

 

🌵 Porque Considerar Plantas em Espaços de Saúde e Bem-Estar?

Nas últimas décadas, os estudos a respeito do tema têm sido realizados em países como Canadá, EUA, Inglaterra, Dinamarca, Austrália, entre outros, e dão conta de que o contacto com elementos naturais reduz níveis de stress e atenua dores físicas e, consequentemente, a necessidade de analgésicos, e influencia até o tempo de internamento.

Assim, podemos dizer que a presença de plantas e outros elementos naturais nos espaços dedicados ao cuidado da saúde e bem-estar, impacta diretamente a recuperação dos pacientes, mas também o desempenho e bem-estar dos profissionais de saúde.

Conforme vimos acima, períodos para restauro da atenção direta promovem a reparação da fadiga mental – neste caso, associada ao desempenho da função.

Numa outra perspetiva, a vegetação pode contribuir para o conforto térmico e acústico da edificação. No primeiro caso, a presença de vegetação afeta os níveis de humidade do ar e exposição ao sol e vento, sendo a redução do uso de ar condicionado um dos possíveis efeitos.

A contribuição para o conforto acústico acontece pela atenuação de ruídos derivada da absorção de ondas sonoras pela vegetação.

Cabe ressaltar que o acesso físico e visual ao meio natural e a incorporação de iluminação natural nos ambientes hospitalares são aspetos contemplados pela certificação internacional Leadership in Energy & Environmental Design (LEED).  

 

Quando são planeados adequadamente, as áreas verdes – sejam jardins terapêuticos ou design biofílico interior -, para além de embelezarem a infraestrutura, passam a ser procurados pela equipa para restauração da fadiga mental, por pacientes e acompanhantes como um espaço para descanso e para convivência e interação social.

 

🌵 Integração de Plantas em Diferentes Espaços de Saúde e Bem-Estar

Os jardins terapêuticos podem apresentar diversos formatos e tamanhos, que vão desde pequenos jardins internos em átrios, a parques urbanos, podendo estar presentes em residências particulares, casas de apoio, complexos hospitalares, clínicas, centros de recuperação, praças e parques.

A título de curiosidade, e evidenciando também a crescente valorização dos ambientes verdes, na Malásia, mais de 40% dos hospitais públicos possuem jardins terapêuticos nas suas dependências.

O Design Biofílico - um conceito que também proporciona benefícios para a saúde, mas com diferente amplitude, comparativamente com os jardins terapêuticos - é mais frequentemente aplicado em espaços com foco no bem-estar, sendo eles, por exemplo, spas, centros de estética e ginásios.

Para estes espaços, as normas de higiene não são tão apertadas e, por isso, permitem mais facilmente a integração de plantas no seu interior. A utilização do Paisagismo no exterior, é, nestes casos, um complemento à estética da marca e que servirá de elemento de atratividade.

 

🌵 Diferentes soluções para diferentes espaços:

Hospitais e clínicas: Receções e áreas de espera podem ganhar vida com arranjos naturais, plantas suspensas e paredes verticais, enquanto jardins terapêuticos oferecem um complemento ao processo terapêutico de pacientes e um refúgio para recuperação dos profissionais.

Spas e Centros de Estética: Elementos naturais, combinados com iluminação suave e aromaterapia, criam um ambiente de relaxamento total. O Paisagismo exterior, quando possível, complementa a identidade da marca e serve o propósito de atração.

Ginásios: Plantas energizantes, como bambu e hera, podem ser utilizadas para criar um ambiente estimulante, enquanto jardins verticais otimizam o uso do espaço. Do mesmo modo, e sempre que possível, deve considerar-se o embelezamento do espaço exterior para comunicar a preocupação da marca com o bem-estar.

 

Plantas em ambientes de bem-estar

 

Diretrizes e Estratégias para Conceção de Áreas Verdes Terapêuticas em Espaços de Saúde

O termo “jardim terapêutico” remete a jardins que possuem uma variedade de características que facilitam a promoção da recuperação do stress, além de outras influências positivas em pacientes, visitantes e funcionários do local.

Para que um jardim possa ser considerado terapêutico, ele deve considerar o perfil do público a que se destina, proporcionando o bem-estar desses e não apenas satisfazer gostos pessoais dos responsáveis pelo seu design.

Uma pesquisa que compreende vários autores que discorrem sobre esta temática, reúne as diretrizes gerais para implementação destes jardins terapêuticos, onde se incluem:

  • Organização coerente;
  • Foco nas necessidades dos usuários;
  • Localização próxima ao público a quem se destina;
  • Destinar espaços separados para os diferentes públicos – pacientes adultos, pacientes pediátricos, equipa hospitalar -, ou, no mínimo, setorizar os espaços;
  • Segurança, acessibilidade, privacidade;
  • Possuir placas informativas a respeito do jardim;
  • Diversidade de elementos naturais e estímulos sensoriais;
  • Elementos que despertem curiosidade;
  • Sensação de estar fora do ambiente hospitalar;
  • Minimização de intrusões e ambiguidades;
  • Incentivo a exercícios;
  • Distrações positivas;
  • Ampla comunicação visual;
  • Elementos culturais;
  • Pinturas artísticas;
  • Pinos de vento;
  • Fontes de água;
  • Diversidade e mobilidade de assentos;
  • Variedade de opções de áreas de descanso;
  • Diversidade de caminhos com diferentes níveis de dificuldade;
  • Aplicação de estratégias para sustentabilidade;
  • Jardins de chuva para drenagem de águas pluviais;
  • 30% da área com caminhos, pérgulas, áreas de descanso;
  • 70% da área para vegetação com árvores de dossel largo, ervas medicinais, arbustos e gramíneas;
  • Uso de plantas comuns da região;
  • Variedade de vegetação e espécies de plantas;
  • Rica variedade de cores e texturas;
  • Ervas aromáticas.

 

De notar que, quando o jardim se destina a um público pediátrico, acrescem outras diretrizes que aqui não mencionamos para não prejudicar a leitura do presente conteúdo. Estas diretrizes estão disponíveis para consulta na bibliografia que abaixo mencionamos.

 

Quando a intenção é aplicar o Design Biofílico, as diretrizes mencionam a presença direta de água, vida vegetal e animal, luz solar, sons e aromas, possibilitando a experiência de conexão visual e sensorial com a natureza.

A aplicação deste conceito requer ainda a presença representativa da natureza, através de materiais naturais, e padrões, cores e formas que remetem ao mundo natural.

Para contextualização, o Design Biofílico compreende várias dimensões de uma dinâmica que integra não só o design de ambientes, mas também o fator saúde. O conceito nasceu a partir da descoberta de uma afinidade inata dos seres humanos com a natureza e do bem-estar intrínseco desta dinâmica.

As possibilidades de aplicação vão desde jardins suspensos, paredes vivas, áreas com luz natural abundante e a presença generalizada de plantas no espaço.

As diretrizes que aqui referimos não têm o intuito de substituir ou sobrepor demais diretrizes de projeto, normas técnicas e leis, mas sim somarem-se a elas. Continuam válidas todas as etapas de projeto pertencentes aos processos criativos bem como os estudos e análises sobre o local para a verificação das necessidades específicas.

 

Jardim de flores como jardim terapêutico

 

Como Superar Barreiras e Preocupações Comuns

As preocupações mais comuns relacionadas com a implementação de ambientes verdes em espaços dedicados à saúde e bem-estar, são normalmente relacionadas com a conformidade com as normas de higiene e os desafios da manutenção.

As normas e regulamentações sanitárias para ambientes hospitalares em Portugal são abrangentes e visam garantir um elevado nível de higiene, segurança e funcionalidade.

Por um lado, as normas de higienização das instalações requerem a implementação de protocolos rigorosos de limpeza e desinfeção das áreas. Por outro, o controlo de infeções obriga a diretrizes claras de execução de procedimentos e monitorização rigorosa de práticas de segurança.

A descaracterização e a falta de humanização dos ambientes hospitalares a que estamos habituados reflete a preocupação com o cumprimento destas normas, optando-se assim, por não incluir elementos naturais por se considerar que podem pô-las em causa.

No entanto, as plantas podem ser utilizadas nos ambientes hospitalares, desde que não comprometam as normas de higiene. Para tal, há alguns detalhes a ter em consideração:

  • Optar por plantas livres de alérgenos e em vasos com solo coberto ou de cultivo hidropónico;
  • Dar preferência a plantas resistentes e purificadoras;
  • Escolher espécies de baixa manutenção e contratar serviços especializados para efetuar a manutenção;
  • Garantir que o design respeita regulamentações sanitárias;
  • Preferir estratégias que incluem jardins internos, paredes verdes e micro paisagens integradas no átrio ou em espaços desenhados para o efeito - quando no interior; ou jardins terapêuticos e projetos paisagísticos - quando no exterior.

 

jardim hospitalar

Khoo Teck Puat Hospital, Singapura

 

Porque Começar Agora? O Futuro dos Espaços de Saúde

O futuro dos ambientes de saúde e bem-estar está intrinsecamente ligado à crescente valorização da humanização destes espaços, refletindo uma preocupação global com o cuidado integral e holístico dos indivíduos.

Enquanto no passado os projetos priorizavam funcionalidade e assepsia, hoje, reconhece-se a necessidade de criar ambientes que promovam conforto emocional e conexão humana.

Neste contexto, as soluções verdes despontam como ferramentas essenciais, não apenas pela sua capacidade de purificar o ar, mas também por estimular o bem-estar psicológico e reduzir o stress.

Incorporar elementos naturais nos espaços de saúde, como plantas e jardins terapêuticos, reforça a sensação de acolhimento e tranquilidade, transformando a experiência de pacientes e profissionais.

Começar desde já a implementar estas práticas é um passo crucial para alinhar-se às expectativas futuras, respondendo ao desejo por sustentabilidade e cuidado humanizado, além de contribuir para uma nova visão de saúde, mais equilibrada e harmoniosa.

Exemplos internacionais da aplicação dos conceitos que aqui abordamos podem ser o Hospital Infantil Lucile Packard nos EUA que Integra jardins terapêuticos e áreas verdes internas para pacientes e familiares; e o Khoo Teck Puat Hospital em Singapura,  conhecido pelos seus jardins verticais exuberantes, que harmonizam com a arquitetura.

 

Paisagismo em hospital

Lucile Packard Children's Hospital, EUA 

 

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Referências bibliográficas:

Paris, B. C; Mukai, H; Roesler, D. A. 2021. “Jardins Terapêuticos Hospitalares: Bases Teóricas E Diretrizes Projetuais”. Revista Projetar - Projeto e Percepção do Ambiente, n.3 (setembro). Disponível aqui

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